22 setembro, 2008

Varões da História




“Aquele que se sentir incompreendido ou desprezado, procure, na Historia, um seu irmão em sofrimento, e esse morto, dar-lhe-á vida. Dentro de quase todos os seres humanos, há forças e virtualidades que eles próprios desconhecem. E apenas questão de surgir o incidente ou a faísca capaz de acordar essas misteriosas forças criptopsíquicas. A doença, a deformidade, o escárnio tem sido em muitos casos, o estimulo que conduziu ao triunfo e a glória aqueles que parecia estarem condenados à derrota e a insuficiência”.

Mário Gonçalves Viana

20 setembro, 2008

Bar ruim é lindo, bicho



Por Antonio Prata

Eu sou meio intelectual, meio de esquerda, por isso freqüento bares meio ruins. Não sei se você sabe, mas nós, meio intelectuais, meio de esquerda, nos julgamos a vanguarda do proletariado, há mais de cento e cinqüenta anos. (Deve ter alguma coisa de errado com uma vanguarda de mais de cento e cinqüenta anos, mas tudo bem).

No bar ruim que ando freqüentando ultimamente o proletariado atende por Betão – é o garçom, que cumprimento com um tapinha nas costas, acreditando resolver aí quinhentos anos de história.

Nós, meio intelectuais, meio de esquerda, adoramos ficar “amigos” do garçom, com quem falamos sobre futebol enquanto nossos amigos não chegam para falarmos de literatura.

– Ô Betão, traz mais uma pra a gente – eu digo, com os cotovelos apoiados na mesa bamba de lata, e me sinto parte dessa coisa linda que é o Brasil.

Nós, meio intelectuais, meio de esquerda, adoramos fazer parte dessa coisa linda que é o Brasil, por isso vamos a bares ruins, que têm mais a cara do Brasil que os bares bons, onde se serve petit gâteau e não tem frango à passarinho ou carne-de-sol com macaxeira, que são os pratos tradicionais da nossa cozinha. Se bem que nós, meio intelectuais, meio de esquerda, quando convidamos uma moça para sair pela primeira vez, atacamos mais de petit gâteau do que de frango à passarinho, porque a gente gosta do Brasil e tal, mas na hora do vamos ver uma europazinha bem que ajuda.

Nós, meio intelectuais, meio de esquerda, gostamos do Brasil, mas muito bem diagramado. Não é qualquer Brasil. Assim como não é qualquer bar ruim. Tem que ser um bar ruim autêntico, um boteco, com mesa de lata, copo americano e, se tiver porção de carne-de-sol, uma lágrima imediatamente desponta em nossos olhos, meio de canto, meio escondida. Quando um de nós, meio intelectual, meio de esquerda, descobre um novo bar ruim que nenhum outro meio intelectuais, meio de esquerda, freqüenta, não nos contemos: ligamos pra turma inteira de meio intelectuais, meio de esquerda e decretamos que aquele lá é o nosso novo bar ruim.

O problema é que aos poucos o bar ruim vai se tornando cult, vai sendo freqüentado por vários meio intelectuais, meio de esquerda e universitárias mais ou menos gostosas. Até que uma hora sai na Vejinha como ponto freqüentado por artistas, cineastas e universitários e, um belo dia, a gente chega no bar ruim e tá cheio de gente que não é nem meio intelectual nem meio de esquerda e foi lá para ver se tem mesmo artistas, cineastas e, principalmente, universitárias mais ou menos gostosas. Aí a gente diz: eu gostava disso aqui antes, quando só vinha a minha turma de meio intelectuais, meio de esquerda, as universitárias mais ou menos gostosas e uns velhos bêbados que jogavam dominó. Porque nós, meio intelectuais, meio de esquerda, adoramos dizer que freqüentávamos o bar antes de ele ficar famoso, íamos a tal praia antes de ela encher de gente, ouvíamos a banda antes de tocar na MTV. Nós gostamos dos pobres que estavam na praia antes, uns pobres que sabem subir em coqueiro e usam sandália de couro, isso a gente acha lindo, mas a gente detesta os pobres que chegam depois, de Chevette e chinelo Rider. Esse pobre não, a gente gosta do pobre autêntico, do Brasil autêntico. E a gente abomina a Vejinha, abomina mesmo, acima de tudo.

Os donos dos bares ruins que a gente freqüenta se dividem em dois tipos: os que entendem a gente e os que não entendem. Os que entendem percebem qual é a nossa, mantêm o bar autenticamente ruim, chamam uns primos do cunhado para tocar samba de roda toda sexta-feira, introduzem bolinho de bacalhau no cardápio e aumentam cinqüenta por cento o preço de tudo. (Eles sacam que nós, meio intelectuais, meio de esquerda, somos meio bem de vida e nos dispomos a pagar caro por aquilo que tem cara de barato). Os donos que não entendem qual é a nossa, diante da invasão, trocam as mesas de lata por umas de fórmica imitando mármore, azulejam a parede e põem um som estéreo tocando reggae. Aí eles se dão mal, porque a gente odeia isso, a gente gosta, como já disse algumas vezes, é daquela coisa autêntica, tão Brasil, tão raiz.

Não pense que é fácil ser meio intelectual, meio de esquerda em nosso país. A cada dia está mais difícil encontrar bares ruins do jeito que a gente gosta, os pobres estão todos de chinelos Rider e a Vejinha sempre alerta, pronta para encher nossos bares ruins de gente jovem e bonita e a difundir o petit gâteau pelos quatro cantos do globo. Para desespero dos meio intelectuais, meio de esquerda que, como eu, por questões ideológicas, preferem frango à passarinho e carne-de-sol com macaxeira (que é a mesma coisa que mandioca, mas é como se diz lá no Nordeste, e nós, meio intelectuais, meio de esquerda, achamos que o Nordeste é muito mais autêntico que o Sudeste e preferimos esse termo, macaxeira, que é bem mais assim Câmara Cascudo, saca?).

– Ô Betão, vê uma cachaça aqui pra mim. De Salinas quais que tem?

Um segredo para guardar: Pizzaria do Chico

Desejos gravidícios que aparecem frequentemente até em indivíduos dotados de testosterona fizeram-me sentir vontade de comer pizza numa sexta à noite. Numa busca compartilhada entre amigos, decidimos conhecer uma pizzaria há tanto recomendada. Local simples, pizza deliciosa e barata; altamente recomendável.



Extraído do blog do Juarez
http://oglobo.globo.com/online/blogs/juarez/post.asp?cod_post=12367




CERTOS SEGREDOS jamais deveriam ser revelados. Mas a profissão me obriga a ignorar essa máxima para lhe contar ao pé do ouvido, caro leitor, sobre a Pizzaria do Chico. O lugar se esconde há nove anos num pequeno botequim da Glória, espremido entre uma produtora de cinema e uma academia de artes marciais. Trata-se, sem exageros, de uma das melhores pizzas da cidade. E, sem dúvida nenhuma, da mais barata.

Lá, a massa fina e crocante, de recheios sempre frescos e em composição caprichada, chega às quatro mesinhas de plástico em velhas, maltratadas e enormes assadeiras de alumínio. Pratos não há: apenas talheres e guardanapos, que convidam a uma degustação comunitária e sem frescuras. Para beber, cerveja ou refrigerante. De sobremesa, docinhos caseiros. E na conta, a agradável surpresa de saber que é possível comer pizzas de categoria a preços de boteco, o que faria enrubescer os donos dessas sofisticadas redes que vendem massa e mozarela a peso de ouro. Pois no Chico uma pizza individual custa, no máximo, R$11.

O dono da casa, o mezzo carioca, mezzo calabrês Francisco Allevato, também comanda a minicozinha improvisada onde só cabem ele e um ajudante. A falta de estrutura Francisco compensa com experiência: antes de abrir o bar, viveu cinco anos como pizzaiolo em restaurantes na Itália. Trouxe de lá segredos carregados de talento e simplicidade. O melhor deles, na opinião deste colunista, esconde-se na bruschetta de pizza branca. De comer e se lambuzar.

Pizzaria do Chico: Rua Santa Cristina 21, Glória - 2508-7180. Seg a sáb, das 16h às 22h. C.C.: Nenhum.

18 setembro, 2008

O Caderno de Saramago

"Fisicamente, habitamos um espaço, mas, sentimentalmente, somos habitados por uma memória. Memória que é a de um espaço e de um tempo, memória no interior da qual vivemos, como uma ilha entre dois mares: um que dizemos passado, outro que dizemos futuro. Podemos navegar no mar do passado próximo graças à memória pessoal que conservou a lembrança das suas rotas, mas para navegar no mar do passado remoto teremos de usar as memórias que o tempo acumulou, as memórias de um espaço continuamente transformado, tão fugidio como o próprio tempo."

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A poesia de José




"Há na memória um rio onde navegam
Os barcos da infância, em arcadas
De ramos inquietos que despregam
Sobre as águas as folhas recurvadas.

Há um bater de remos compassado
No silêncio da lisa madrugada,
Ondas brancas se afastam para o lado
Com o rumor da seda amarrotada.

Há um nascer do sol no sítio exacto,
À hora que mais conta duma vida,
Um acordar dos olhos e do tacto,
Um ansiar de sede inextinguida.

Há um retrato de água e de quebranto
Que do fundo rompeu desta memória,
E tudo quanto é rio abre no canto
Que conta do retrato a velha história."


José Saramago

Boiada



Boiada




Boiada, triste boiada
Na estrada cheia de pó
Boiada, o meu coração
Também caminha tão só

Levando junto a saudade
Velha esperança guardada
Vai carregando a tristeza
À passo lento na estrada

Saí de casa menino
Deixei chorando meus pais
Cresci no mundo sozinho
E não voltei nunca mais

A irmã deve estar casada
A mãe que nunca me esquece
Meu pai de certo está velho
O irmão já nem me conhece

A lua beija meu rosto
Sereno me faz um carinho
O vento faz serenata
A onde durmo sozinho

As estrelas são meus guardas
Posso dormir sossegado
E quando eles vão embora
O sol vem juntar meu gado

Muitas vezes na despedida
Eu tenho que disfarçar
Quando uma lágrima rola
Caindo em meu olhar

A poeira levantando no céu
Formando um letreiro
Se espalha em letras de pó
Lembrança de boiadeiro
Pedro Bento e Zé Da Estrada


Cegueira



Adaptação da obra de Saramago, Cegueira é um filme incomodante e fantástico de Fernando Meirelles. Diz-se que faz-nos pensar sobre o quanto somos cegos em relação ao que está ao nosso redor. Minha sessão de sala escura cheirando à cultura de hoje e talvez o maior motivo da minha ansiedade no ramo, deste ano.

Uma consolidação pede aprimoramentos.





Viva o povo brasileiro, pois hajamos de comemorar a consolidação democrática em nosso sistema político, que vivencia em 2008 sua 10ª eleição direta consecutiva. O fortalecimento é oriundo de uma série de avanços, como a implantaçao da urna eletrônica e o firmamento de regras eleitorais, que dão-nos fôlego e ar para que menos vulneráveis tornemo-nos.

É impensável, até para o nosso popular "mestre-presidente" midiático da república, pensar em burlar demagogicamente nossas regras em busca de um terceiro mandato. Uma sondagem feita em 2007 pelo Partido dos Trabalhadores mostrou que nenhuma unidade da federação apoiaria um terceiro mandato do Excelentíssimo Inácio da Silva. 4 é muito, 8 é demais, e 12? Jamais!

Nossos avanços são merecedores de congratulações, mas nossa vulnerabilidade destoa do comum. Saliento a necessidade de discutirmos urgentemente uma reforma política ampla, pautada em diversos temas, tais quais: fidelidade partidária (o mandato pertence ao partido), implementação do voto distrital (misto) e do voto em lista (aberta), reciclagem do horário eleitoral gratuito, buscando diariamente um debate mais amplo e direto entre os candidatos, apoucando o vazio de idéias e a distância que sentimos dos candidatos; financiamento público de campanha (sou contra) e transparência dos financiadores desta (fiscalização rigorosa em cima disto).

Sempre fui a favor do parlamentarismo, mas acho que para que cheguemos até ele, é necessário que passemos por transformações profundas que preparem-nos para tal mudança. Cabe-nos cobrar dos nossos políticos, principalmente dos congressistas, maior discussão e menor clientelismo; que cada um atue como um representante do povo e não como um representante dos interesses próprios. Vai Brasil, e mostre a tua cara!

Vítor Araújo



Notem um rapaz de branco, na ponta esquerda, de pé, "auscultando" o coração de um pianista diferenciado. Ah, que saudade de Santa.

Barbosa e Regina

Frases



"Este governo é incompetente. É preciso dizer claramente que o rei está nú."

Fernando Henrique Cardoso

Coxim e suas desesperadas arapucas políticas.



desespero | s. m.
1ª pess. sing. pres. ind. de desesperar

desespero
s. m.,
desesperação;
angústia.


O FANTASMA DA DERROTA ASSOMBRA O PARTIDO DEMOCRÁTICO TRABALHISTA COXINENSE. HAJA ESPAÇO PARA TAMANHO DESESPERO!

16 setembro, 2008

Quando um sanfoneiro toca...



Dino Rocha, um dos maiores sanfoneiros do mundo, demonstra sua notável habilidade em uma apresentação caseira (moagem) feita em Campo Grande (MS) para os amigos Toninho e Zezinho.

09 setembro, 2008

Polvo au pobrete!



Criatividade cabe em qualquer lugar.

Sócrates




"Sábio é aquele que conhece os limites da própria ignorância."
Sócrates

Pedro Pedreiro




Pedro pedreiro penseiro esperando o trem
Manhã parece, carece de esperar também
Para o bem de quem tem bem de quem não tem vintém
Pedro pedreiro fica assim pensando

Assim pensando o tempo passa e a gente vai ficando prá trás
Esperando, esperando, esperando, esperando o sol esperando o trem, esperando aumento desde o ano passado para o mês que vem

Pedro pedreiro penseiro esperando o trem
Manhã parece, carece de esperar também
Para o bem de quem tem bem de quem não tem vintém
Pedro pedreiro espera o carnaval

E a sorte grande do bilhete pela federal todo mês
Esperando, esperando, esperando, esperando o sol
Esperando o trem, esperando aumento para o mês que vem
Esperando a festa, esperando a sorte
E a mulher de Pedro, esperando um filho prá esperar também

Pedro pedreiro penseiro esperando o trem
Manhã parece, carece de esperar também
Para o bem de quem tem bem de quem não tem vintém

Pedro pedreiro tá esperando a morte
Ou esperando o dia de voltar pro Norte
Pedro não sabe mas talvez no fundo espere alguma coisa mais linda que o mundo
Maior do que o mar, mas prá que sonhar se dá o desespero de esperar demais
Pedro pedreiro quer voltar atrás, quer ser pedreiro pobre e nada mais, sem ficar
Esperando, esperando, esperando, esperando o sol
Esperando o trem, esperando aumento para o mês que vem
Esperando um filho prá esperar também
Esperando a festa, esperando a sorte, esperando a morte, esperando o Norte
Esperando o dia de esperar ninguém, esperando enfim, nada mais além
Da esperança aflita, bendita, infinita do apito de um trem
Pedro pedreiro pedreiro esperando
Pedro pedreiro pedreiro esperando
Pedro pedreiro pedreiro esperando o trem
Que já vem...
Que já vem
Que já vem
Que já vem
Que já vem
Que já vem

Francisco Buarque de Hollanda

06 setembro, 2008

Kurosawa, o cineasta que misturava filmes com poesia. + 06 de setembro de 1998



"O protagonista conversa com um camponês de 103 anos:

- Não tem eletricidade aqui?
- Não precisamos dela. As pessoas se acostumam com a conveniência, acham que a conveniência é melhor. Jogam fora o que é realmente bom.
- Mas, e a iluminação?
- Temos velas e óleo de linhaça.
- Mas a noite é tão escura...
- Sim. A noite tem de ser assim... Por que a noite deveria ser clara como o dia? Eu não gostaria de não conseguir ver as estrelas à noite. (...) Tentamos viver do modo como o homem vivia antigamente. É o modo natural de viver. Hoje em dia, as pessoas se esquecem de que elas são parte da natureza. Destruem a natureza da qual nossa vida depende. Acham que sempre podem criar algo melhor. Sobretudo os cientistas. Eles podem ser inteligentes, mas a maioria não entende o coração da natureza. Eles só criam coisas que acabam tornando as pessoas infelizes. Mesmo assim, orgulham-se tanto de suas invenções. E, o que é pior, a maioria das pessoas também se orgulha. Elas as vêem como milagres. Idolatram-nas. Elas não sabem, mas estão perdendo a natureza. Não percebem que vão morrer. As coisas mais importantes para os seres humanos são o ar limpo e a água limpa e as árvores e as plantas. Tudo está sendo sujado, poluído para sempre. Ar sujo, água suja, sujando o coração dos homens."

Dreams [1990], de Akira Kurosawa

Espirituosa Santa Teresa



"Ai, a gente brinca e se esconde
nos montes de Santa Tereza.
A gente faz e acontece,
a gente até se esquece
que a gente sobe,
a gente desce
a gente faz.
E acontece todo dia, como tem que ser.

E acontece todo dia, feito poesia,
feito sabiá,
feito essa menina moça,
que em moça, um dia,
irá se transformar

E os novelos vão passando
e a gente vai ficando
nos montes de Santa Tereza.
A gente faz e acontece.
A gente, às vezes, se esquece
que a gente sobe, a gente desce,
a gente faz.
E acontece todo dia, como tem que ser.

E acontece feito flecha
por sobre esses arcos,
sobre esses quintais.
Feito poesia presa
que guarda a beleza
desses nossos pais."

Paulo Renato / Zé Luiz

Santa vem sendo o meu cantinho predileto no Rio. Foram 4 finais de semana fabulosos, cheios de singularidade e encantos. Aquelas ruelas de paralelepípedo direcionam a casarões suntuosos, hoje ocupados por muito samba, choro, caipirinha e conversa fiada. Salve Santa, o melhor bairro do Rio.

05 setembro, 2008

11 anos sem Agnes.




Use o tostão que sobra
E que em nada te aproveita,
Dar sempre é exemplificar
a caridade perfeita!
Caridade é, muitas vezes,
Fazer-se sempre o menor,
Está na luz da Humildade
A caridade melhor.
Caridade é perdoar
A quem te causa uma dor
É converter todo o espinho
Numa braçada de flor.
Caridade, enfim, na Terra
É buscar a perfeição,
A perfeição de si mesmo
No templo do coração.

Chico Xavier

04 setembro, 2008

História e Reparação




A história política de nosso varonil país é cheia de ilusões e desenganos. Virou rotina deixarmos muitos dos construtores da Pátria Amada ao relento escuro e solitário de um passado olvidado. Maurício de Nassau, Bento Gonçalves, Ruy Barbosa e Roberto Campos são alguns dos nomes que representam biografias ora comprimidas, ora deturpadas. Por estes, a mão do tempo mostrou-se impiedosa; eles, sapiens que tiveram o sortilégio de nascerem numa era enganada. Malquisto espírito progressista que plantou estes homens dotados desta característica num tempo desajeitado. Porém, a magnitude destes bravos encontra-se solidamente enraizada nas camadas mais profundas de nossa herança (refiro-me à bendita).

Em virtude de hoje comemorarmos o casamento de nossa saudosa Majestade Imperial, dom Pedro II, com Dona Tereza Cristina, venho aqui prestar minha homenagem a este patrono tupiniquim.

Inventor, apoiador da cultura, grande estrategista bélico, pai das comunicações e dos transportes brasileiros, amante da Filosofia e Sociologia, podem ser estes alguns dos títulos grandiosos pertencentes à Sua Majestade. Fora, além de tudo, um abolicionista. Assim melhor explica Heitor Lara:

“O inspirador da campanha [abolicionista], o estrategista dela, a alma do movimento, aquele que buscara o general [Presidente do Conselho de Ministros] e o colocara na frente das hostes [Assembléia Geral], que lhe armara o braço e o prestigiara na avançada, com uma decisão sempre firme, constante, fiél - fora o Imperador."

Nos campos sociais, o heróico; criou e reformulou escolas e universidades, deixando mais de três milhares de escolas. No cientificismo, era o ilustre apaixonado pelas pesquisas; correpondia-se com as mais importantes instituições e pesquisadores do planeta, sendo que chegou a destinar capitais vultuosos às pesquisas de Louis Pasteur, antes que este fosse reconhecido em sua terra natal, a França.

Visionário, foi o imperador o responsável pela alavancada industrial de nosso país. Saliento que também foi ele o primeiro a preocupar-se com a nossa fauna e flora, e por isso, replantou toda a área degradada pela cultura do café, onde hoje se encontra a maior floresta urbana do mundo, a Floresta da Tijuca.

Pergunto: há biografia maior do que esta em toda nossa história? Não!

E como o tratamos? Com uma expulsione nada sensitiva e cheia de enleios. Mesmo ele acatando o movimento republicano e reprimindo movimentações pró-monárquicas, nossos "bravos" marechais esculacharam-no para um exílio sórdido e deprimente. Pedro II morreu em Paris no dia 5 de Dezembro de 1891, no Hotel Bedford. Revogada a lei do Banimento, em 1921, seus restos mortais foram transportados para o Brasil e repousam na Catedral de Petrópolis, cuja construção teve início sob seu patrocínio.

Cabe a nós um agradecimento misturado com remorso, a este Pedro de Alcântara, um dos construtores do Brasil. Salve Sua Majestade Imperial, dom Pedro II, Imperador Constitucional e Defensor Perpétuo do Brasil.


Chicosando!



Seu Chico ao vivo no Cinematheque Jam Club (RJ).

Pedro II, nosso imperador com ideais republicanos




"As eleições, como elas se fazem no Brasil, são a origem de todos os nossos males políticos".

03 setembro, 2008

Paissandu




Inovação não deve significar fim de tradição.


Esta roda-viva que é o mundo vem trazendo cada vez mais inovações... e levando tradições. Foram realizadas neste final de semana as últimas sessões de filmes do Cine Paissandu, localizado no Flamengo. O Paissandu foi responsável, ao lado do Odeon, pela formação de toda uma geração de cinéfilos cariocas. Os freqüentadores do espaço puderam despedir-se deste com uma maratona de clássicos que iam desde Bergman até Bertolucci.

Minha maior lembrança no local foi ter assistido a película "Sangue Negro", de Paul Thomas Anderson, com atuações formidáveis de Daniel Day-Lewis e Kevin J. O'Connor. O charme do cinema e a sua grande sala encantaram-me e refletem bem como eram os cinemas de antigamente.

O Grupo Estação, que gerencia o Cine Paissandu, aduz que não tem como mantê-lo em funcionamento por ser economicamente inviável (só possui uma sala). Além disso, o proprietário teria pedido o imóvel. Os amantes do cinema compareceram em peso e aproveitaram para colher assinaturas para impedir que a sala, inaugurada em 1960, seja fechada. Estou esperançoso para que este acontecimento tenha um bom desfecho e não converta mais um cinema em igreja ou galeria.

Avante, biólogos!


"Aprendo com abelhas mais do que com aeroplanos. É um olhar para baixo que eu nasci tendo.
É um olhar para o ser menor, para o
insignificante que eu criei tendo. O ser que na sociedade é chutado como uma barata - cresce de importância para o meu olho. Ainda não entendi por que herdei esse olhar para baixo. Sempre imagino que venha de ancestralidades machucadas. Fui criado no mato e aprendi a gostar das coisinhas do chão - antes que das coisas celestiais. Pessoas parecidas de abandono me comovem: tanto quanto as soberbas coisas ínfimas."

Manoel de Barros

Homenageio hoje a todos os biólogos pelo seu dia.



01 setembro, 2008

Reeleição e Plebiscito.


Há 10 anos a reeleição para cargos do Poder Executivo entrou em vigência no país, após a aprovação, em 1998, da emenda constitucional n° 16, de 4 de julho de 1997. Penso que a reeleição é uma arma forte que trouxe maior possibilidade de implementação dos então escassos projetos de governo a longo prazo; ela deu viabilidade a planos diretores intencionados em planejar o futuro de uma esfera por décadas, transpondo o tempo de mandato dos gestores. Realmente 4 anos é pouco para dar continuidade à grandeza (ou pequenez) dos feitos de um mandato, ainda mais quando tratam-se de medidas sócio-econômicas.

Com a mudança promovida durante o governo FHC (PSDB), tivemos na esfera municipal, em 2000, a reeleição do então prefeito Oswaldo Mochi Júnior (PMDB/Coxim). Acredito que a população reconheceu a vastidão e o ineditismo de seu primeiro mandato, que trouxe inúmeras e profundas transformações em diversas áreas, assim justificando sua expressiva votação sobre o tradicional e experiente político João Leite Schimidt (PDT). Foi um verdadeiro plebiscito, que deu respaldo e credibilidade a Mochi para que este continuasse com seu trabalho à frente da Prefeitura.

Passados 8 anos desta eleição, digna de se conservar na memória, passamos nós por uma nova possibilidade de reeleger um mandatário. O engenheiro agrônomo Moacir Kohl (PDT) busca seu terceiro mandato como prefeito de Coxim, tem em seu histórico político um mandato como vice-governador no primeiro Governo Zeca do PT (1999-2002) e uma disputa pelo governo do estado em 2002. Sua concorrente é a advogada Dinalva Mourão (PMDB), ex-vereadora por 2 mandatos consecutivos (1997-2004) e candidata vencida por Kohl nas eleições de 2004. Acredito que nos toca analisar quais são os méritos que tornam o atual prefeito e seu último mandato credenciados a terem seus projetos continuados.

Quais sementes por ele foram plantadas? Quais frutos, por ele colhidos, são de fato méritos próprios? Como está nossa Coxim, comparada ao que era em 2004? Progredimos, estacionamos ou retrocedemos? Aproveitamos ou desperdiçamos oportunidades? Tivemos soluções apresentadas para nossos grandes entraves e problemas? Quais destes foram amenizados ou sanados? São essas algumas das perguntas que devem ser acrescentadas ao debate que se inicia. É este o debate que gostaríamos de presenciar.

Sinto que estacionamos, ao contrário de nossas vizinhas São Gabriel e Sonora, que apresentaram crescimento chinês, assim como as também sul-matogrossenses Corumbá e Três Lagoas. Nosso sistema de saúde está um caos, nossa cidade encolhe populacionalmente, ainda vive na dependência do funcionalismo público. A prefeitura não é criativa, nem empreendedora, não incentiva nem atrai empresas, não dá voz ao pequeno produtor rural, nem ao jovem que quer iniciar seu próprio negócio... não dá fomento ao turismo, não divulga nossas belezas naturais e nem incentiva nosso setor hoteleiro. Nossa cultura patina, e olha que temos um baluarte da música sertaneja como ídolo-símbolo. Pra ser bem sincero, as mudanças que senti em Coxim foram tal qual uma maquilagem num rosto cansado representada pela reforma e construção das praças públicas e edificação da Concha Municipal. Sim, trouxeram nova textura, mas não deram o vigor o qual a nossa cidade necessita.

Acredito que a Dinalva trará este vigor, pois a conheço, sei como se importa com os setores mais fragilizados; ela realmente sabe como solucionar muitos destes entraves, é humilde e na sua humildade sabe acolher, formular e/ou buscar boas experiências, tem idéias novas e possíveis de serem concretizadas. À Dinalva não falta vigor e tenho a certeza de que ela pode converter toda esta intenção por mudanças em acontecimentos sólidos que hão de trazer melhorias evidentes à Coxim. Meu voto é 15, "pela vontade do povo", porque tenho a certeza de que Coxim tem barreiras a serem transpostas e a Dinalva é a candidata capaz de levar-nos a um novo e melhor destino transponível.






Justiça!



"Se alguma coisa divina existe entre os homens, é a justiça. Nisto se compendiam todas as minhas crenças políticas. De todas elas essa é o centro. Mas para que a justiça venha a ser essa força, esse elemento de pureza, esse princípio de estabilidade, é preciso que não se misture com as paixões da rua, ou as paixões dos governos, e seja a justiça isenta, a justiça impassível, a soberana justiça, a congênita em nós, entre os sentimentos sublimes à religião e à verdade."


Rui Barbosa

La Marioneta













Se, por um instante, Deus se esquecesse de que sou uma marionete de trapo e me presenteasse com um pedaço de vida, possivelmente não diria tudo o que penso, mas, certamente, pensaria tudo o que digo.
Daria valor às coisas, não pelo que valem, mas pelo que significam.
Dormiria pouco, sonharia mais, pois sei que a cada minuto que fechamos os olhos, perdemos sessenta segundos de luz. Andaria quando os demais parassem, acordaria quando os outros dormem. Escutaria quando os outros falassem e gozaria um bom sorvete de chocolate.
Se Deus me presenteasse com um pedaço de vida, vestiria simplesmente, me jogaria de bruços no solo, deixando a descoberto não apenas meu corpo, como minha alma.
Deus meu, se eu tivesse um coração, escreveria meu ódio sobre o gelo e esperaria que o sol saísse. Pintaria com um sonho de Van Gogh sobre estrelas um poema de Mario Benedetti e uma canção de Serrat seria a serenata que ofereceria à Lua. Regaria as rosas com minhas lágrimas para sentir a dor dos espinhos e o encarnado beijo de suas pétalas.
Deus meu, se eu tivesse um pedaço de vida. Não deixaria passar um só dia sem dizer às gentes – te amo, te amo. Convenceria cada mulher e cada homem que são os meus favoritos e viveria enamorado do amor.
Aos homens, lhes provaria como estão enganados ao pensar que deixam de se apaixonar quando envelhecem, sem saber que envelhecem quando deixam de se apaixonar. A uma criança, lhe daria asas, mas deixaria que aprendesse a voar sozinha.
Aos velhos ensinaria que a morte não chega com a velhice, mas com o esquecimento. Tantas coisas aprendi com vocês, os homens...
Aprendi que todo mundo quer viver no cimo da montanha, sem saber que a verdadeira felicidade está na forma de subir a escarpa.
Aprendi que quando um recém-nascido aperta com sua pequena mão pela primeira vez o dedo de seu pai, o tem prisioneiro para sempre. Aprendi que um homem só tem o direito de olhar um outro de cima para baixo para ajudá-lo a levantar-se.
São tantas as coisas que pude aprender com vocês, mas, finalmente, não poderão servir muito porque quando me olharem dentro dessa maleta, infelizmente estarei morrendo.
Autor Desconhecido
 
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