21 fevereiro, 2010

A maravilhosa simplicidade da natureza

Hoje, dia 21 de fevereiro de 2010, acordei cedo, ansioso e de certa forma angustiado, tal qual um menino que vai de encontro ao seu primeiro dia de escola. O motivo? Um passeio inaugural no Rio Taquari, de Coxim, numa chalana recém-fabricada. O convite foi-me feito de última hora pelo seu Pedro, homem simples, tipicamente pantaneiro, de poucas palavras, extremamente gentil e com aquele olhar bondoso de gente que vive a natureza.
A saída estava marcada pras 9 horas, o que num domingo pantaneiro literalmente representam não menos do que 11. A bordo estava a família do seu Pedro, seus amigos e poucos primos/amigos meus. O sol mostrava-se fortemente presente, sob um céu de puro azul, marcando uma temperatura certamente não inferior a 40ºC.

"Definitivo, cabal, nunca há de ser este Rio Taquari. Cheio de furos pelos lados, torneiral – ele derrama e destramela à-toa.

Só com uma tromba d’água se engravida. E empacha, estoura, arromba. Carrega barrancos. Cria bocas enormes. Vaza por elas. Cava e recava novos leitos. E destampa adoidado...

Cavalo que desembesta, se empolga. Escouceia árdego de sol e cio. Esfrega o rosto na escória. E invade, em estendal imprevisível, as terras do Pantanal.

Depois se espraia amoroso, libidinoso animal de água, abraçando e cheirando a terra fêmea."
Descemos mansamente, curtindo a brisa e a companhia de tudo que mais belo há neste mundo: a natureza, a paz que ela humildemente oferece e os amigos. Ao som de Almir Sater, contemplávamos casais de araras voando, bravos quero-queros defensores de ninhos, piaus pulando, capivaras nadando, e uma chalana, navegando através dos serpenteamentos do Taquari de Coxim.

10km rio abaixo, atracamos numa prainha, onde pudemos interagir com o rio banhando-nos em suas águas límpidas e mornas... um verdadeiro batismo de vida! Quem quisesse, poderia aventurar-se através de um esqui ou de um passeio individual numa mini-lancha. Confesso que a pujança, o esplendor e a grandeza do Pantanal fizeram com que eu sentisse-me pequeno, fútil e pobre. Não há energia que se equipare. "Natureza é uma força que inunda como os desertos. Você tenta descobrir na alma alguma coisa mais profunda do que não saber nada sobre as coisas profundas. Consegui não descobrir."

O ponteiro do relógio, mesmo findado o horário de verão, voou, e um fim de dia coloriu os horizontes pantaneiros como um canto de nobreza. "Eu via a natureza como quem a veste. Eu me fechava com espumas". Eu vi meu mundo, desnudei meus desejos e sonhos, e tive ainda mais a certeza de que o que eu quero é viver nessa veia d'água pantaneira, tê-la misturada à minha alma e ao meu sangue, para um dia ser legitimamente, um PANTANEIRO.

*Citações poéticas de Manoel de Barros

Um comentário:

Unknown disse...

Melhor dos domingos...saudades de todos :(

 
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